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domingo, 23 de agosto de 2015

O DIA EM QUE ME TORNEI INVISÍVEL. - Por: Silvia Castillejon Peral





                                          Quando me Tornei Invisível

Já não sei em que datas estamos, nesta casa não há folhinhas, e na minha memória tudo está revolto. As coisas antigas foram desaparecendo.E eu também fui apagando sem que ninguém se desse conta.
Quando a família cresceu, trocaram-me de quarto. Depois, passaram-me para outro menor ainda acompanhada das minhas netas, agora ocupo o anexo, no quintal de trás.
Prometeram-me mudar o vidro partido da janela, mas esqueceram-se. E nas noites, que por ali sopra um ventinho gelado aumentam mais as minhas dores reumáticas.

Um dia à tarde dei conta que a minha voz desapareceu. Quando falo, os meus filhos e netos não me respondem. Conversam sem olhar para mim, como se eu não estivessem com eles. Ás vezes digo algo, acreditando que apreciarão os meus conselhos, mas não me olham, nem me respondem, então retiro-me para o meu canto, antes de terminar a caneca de café. Faço isso para que compreendam que estou triste e para que me venham procurar e me peçam perdão...
Mas ninguém vem . No dia seguinte disse lhes:
- Quando eu morrer, então sim vocês irão sentir a minha falta.
E meu neto perguntou:
- Estás viva avó? ( rindo)
Estive três dias a chorar no meu quarto, até que numa certa manhã, um dos netos entrou para guardar umas coisas velhas. Nem bom dia me deu , foi então que me convenci de que sou invisível.
Uma vez os netos vieram dizer-me que iriamos passear ao campo. Fiquei muito feliz, fazia tanto tempo que não saía!
Fui a primeira a levantar, quis arrumar as coisas com calma, afinal nós velhos somos mais lentos, assim arranjei-me a tempo de não atrasá-los. Em pouco tempo, todos entravam e saíam correndo da casa, atirando bolas e brinquedos para o carro.
Eu já estava pronta e muito alegre, parei na porta e fiquei à espera. Quando se foram embora, compreendi que eu não estava convidada, talvez porque não cabia no carro. Senti que o coração encolhia e o queixo tremia, como alguém que tinha vontade de chorar. Eu os entendo, são jovens, riem, sonham, se abraçam, se beijam e eu e eu.... Antes beijava os meus netos, adorava tê-los nos braços, como se fossem meus. E até cantava canções de embalar que tinha esquecido. Mas um dia...
Um dia a minha neta que acabava de ter um bébé me disse que não era bom que os velhos beijassem os bébés por questões de saúde. Desde então, não me aproximo mais deles, tenho tanto medo de contagia-los! Eu não tenho magoa deles , eu perdoo a todos , porque que culpa têm eles, de que eu tenha me tornado invisível?

Texto original - " El dia que me volvi invisible "
Autora - Silvia Castillejon Peral
Cidade do México - 2002


                                                                    Abraços Fraternos


                                                                      O   AUTOR

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

ABRAÇO DE FILHO





Abraço de filho deveria ser receitado por médico.

Há um poder de cura no abraço que ainda desconhecemos.

Abraço cura ódio. Abraço cura ressentimento. Cura cansaço. Cura tristeza.

Quando abraçamos soltamos amarras. Perdemos por instantes as coisas que nos têm feito perder a calma, a paz, a alma...

Quando abraçamos baixamos defesas e permitimos que o outro se aproxime do nosso coração. Os braços se abrem e os corações se aconchegam de uma forma única.

E nada como o abraço de um filho...

Abraço de Eu amo você. Abraço de Que bom que você está aqui. Abraço de Ajude-me.

Abraço de urso. Abraço de Até breve. Abraço de Que saudade!

Quando abraçamos, a felicidade nos visita por alguns segundos e não temos vontade de soltar.

Quando abraçamos somos mais do que dois, somos família, somos planos, somos sonhos possíveis.

E abraço de filho deveria, sim, ser receitado por médico pois rejuvenesce a alma e o corpo.

Estudos já mostram, com clareza, os benefícios das expressões de carinho para o sistema imunológico, para o tratamento da depressão e outros problemas de saúde.

O abraço deixou de ser apenas uma mera expressão de cordialidade ou convenção para se tornar veículo de paz e símbolo de uma nova era de aproximação.

Se a alta tecnologia – mal aproveitada – nos afastou, é o abraço que irá nos unir novamente.

Precisamos nos abraçar mais. Abraços de família, abraços coletivos, abraços engraçados, abraços grátis.

Caem as carrancas, ficam os sorrisos. Somem os desânimos, fica a vontade de viver.

O abraço apertado nos tira do chão por instantes. Saímos do chão das preocupações, do chão da descrença, do chão do pessimismo.

É possível amar de novo, semear de novo. É possível renascer.

E os abraços nos fazem nascer de novo. Fechamos os olhos e quando voltamos a abri-los podemos ser outros, vivendo outra vida, escolhendo outros caminhos.

Nada melhor do que um abraço para começar o dia. Nada melhor do que um abraço de Boa noite.

E, sim, abraço de filho deveria ser receitado por médico, várias vezes ao dia, em doses homeopáticas.

Mas, se não resistirmos a tal orientação, nada nos impede de algumas doses únicas entre essas primeiras, em situações emergenciais.

Um abraço demorado, regado pelas chuvas dos olhos, de desabafo, de tristeza ou de alívio.

Um abraço sem hora de terminar, sem medo, sem constrangimento.

Medicamento valioso, de efeitos colaterais admiráveis para a alma em crescimento.

                                                                      *   *   *

Mas, se os braços que desejamos abraçar estiverem distantes? Ou não mais presentes aqui? O que fazer?

Aprendamos a abraçar com o pensamento.

O pensamento e a vontade criam outros braços e nossos amores se sentem abraçados por nós da mesma forma.

São forças que ainda conhecemos pouco e que nos surpreenderão quando as tivermos entendido melhor.

Abraços invisíveis a olho nu, mas muito presentes e consoladores para os sentidos do Espírito imortal, que somos todos nós.


                                                                             Abraços fraternos


                                                                              Josimar Fracassi